Amor em Dois Atos - Um Conto Especial da autora Sinéia Rangel





Parei sob o batente, na mão direita uma caneca de café, pés descalços, a camiseta larga caía sobre minha bunda, deixando amostra a calcinha. Esfreguei a mão esquerda nos olhos. Estava exausta, meio grogue de sono, não dormia a mais de vinte e quatro horas, mas não tinha enviado nenhum documento para impressão, disso tinha certeza.

— Impressora idiota — resmunguei, recolhendo os papéis novos da bandeja e desligando-a.  

Fui para cama e acomodei-me. Deslizei o dedo no touchpad, tirando o notebook da hibernação e, enquanto tomava o café, reli os tópicos finalizados. Se conseguisse que escolhessem minha campanha de dia dos namorados, a conta de um dos maiores grupos de cosméticos do país seria minha. É claro que havia um porém, eu não acreditava em romance e toda essa baboseira. 

Eu tinha um final de semana para reestruturar toda a campanha que levei um mês para desenvolver, porque naquela manhã, meu chefe gargalhou, como se tivesse escutado a melhor piada do mundo, ao ver a prévia. Não tinha tempo a perder, terminado o café, depositei a caneca na mesinha de cabeceira e voltei ao trabalho. Os primeiros raios de sol se enredavam entre as frestas da cortina quando me rendi ao cansaço, empurrei o notebook para o lado e me aninhei entre os lençóis. Antes do que desejava, meu sono foi interrompido.

— Droga. — Tateei o espaço acima da minha cabeça, procurando pelo celular. — Oi — murmurei, ao atender.

— Você estava dormindo?

— É crime?

— Fer, são quase sete horas.

— Fui dormir, já era dia.

— Sete da noite, irmãzinha.

— Merda! Por que não me ligou antes, sua vaca?

— Mandei mensagens. Muitas. Pensei que estivesse me ignorando porque estava enfiada no trabalho. Pra variar.

— É o que irei fazer, mas antes, preciso de um banho e café.

— Você precisa é de uma distração, de preferência uma que te faça gozar. Há quanto tempo você não dá uma?

— Eu não tenho tempo nem para brincar com o chuveirinho, você acha que vou arrumar um cara para me comer onde? Antes de falar para entrar num aplicativo de relacionamentos, lembre-se que na última vez terminei no motel com um idiota chorando pela ex. E eu só queria trepar, só isso. — Ela engasgou com a própria risada. — Não ria, não ouse! Disse de cara que queria um encontro casual, ele podia ter ido chorar pela ex depois que tivesse bem longe, mas não, o imbecil me fez perder tempo para nada.

— Alguém do trabalho?

— Deus me livre!

— Do seu prédio. Sabe um loiro alto, do cabelo meio enroladinho?

— É gay.

— E o gostosão careca? Acho que ele mora no andar embaixo do seu.

— É marido do loiro. — Ri do suspiro frustrado dela. — Beijos porque o trabalho me espera.

— Fer, é sábado! Vamos marcar uma saidinha para mais tarde.

— Tenho que apresentar a proposta da campanha na segunda, Carla. Não vai dá.

— Ah, e o surfista?

— Não sei quem é.

— Como não? Encontrei no elevador quando fui levar a impressora. Cabelos escuros, bronzeado e lindos olhos verdes.

— Se vi, não me chamou atenção.

— Impossível! Em nenhum lugar do mundo aquele homem passa despercebido. Ele tem jeito de que faz gostoso e uma carinha de safado sem vergonha. E a boca... ui! Sentava forte.

— Vai ver é alguém recém-chegado.

— Se quiser, descubro o apartamento. 

— E depois vou lá pedir uma xícara de açúcar? Vai apagar esse fogo com meu cunhado, porque tenho que trabalhar.

— Fer...

— Eu sei, preciso desacelerar. Se conseguir a conta da campanha, poderei...

— Você irá trabalhar num ritmo ainda mais acelerado.

— Segunda almoçamos juntas e no próximo sábado, se der, marcamos um barzinho. Prometo.

— Tenho opção? Não né? Bom trabalho.

— Beijunda. 

Ao final da ligação, puxei o notebook para o colo e enviei para impressão os gráficos de prospecção e o projeto da campanha. Levantei-me, abri a porta da varanda, liguei a impressora, repus os papéis, e segui para o banheiro, ao passo que fazia o pedido do meu jantar por delivery. O riso explodiu quando olhei para o chuveirinho, era uma droga que meu encontro mais quente nos últimos meses tenha sido com ele. Poderia ao menos me dar cinco minutos com um vibrador e um orgasmo decente. 

— Posso ter cinco ou dez minutos. 

Voltei ao quarto, abri o roupeiro e revirei as gavetas, até encontrar o dildo com ventosa. Era um modelo realístico, com veias e tudo, de vinte e três centímetros, e muito eficaz no que se propunha. Com minha distração em mãos, interfonei para portaria, solicitando que recebessem minha comida, assim que pudesse desceria para buscá-la, e retornei ao banheiro. Fazia tanto tempo desde que me permiti um pouco de prazer que não demorou para que atingisse o clímax. 

Acho que você deveria ficar aí. — Apontei para o vibrador fixado na lateral da banheira. — Preciso fazer isso mais vezes.

Banho tomado, preparei um café fresquinho, recolhi as impressões e acomodei-me na poltrona na varanda, para analisar os dados dos gráficos com calma e definir a melhor estratégia para a campanha. 

— Que merda é essa? 

Estava separando as páginas por tópicos e entre meu trabalho, encontrei folhas inteiras estampadas com desenhos macabros e mensagens como: “estou te observando” e “vou te pegar”. Joguei o maço de folhas na poltrona, peguei o celular e me encaminhei para o elevador, ligando para minha irmã enquanto descia para buscar o jantar. 

— Mudou de ideia e quer o apê do surfista gostoso? 

— Vaca! Você sabe que morro de medo dessas coisas, não tem graça. 

— Do que você está falando? 

— Para! — O elevador parou. Olhei para o painel, ao invés de descer, tinha subido um andar. A porta abriu. Abaixei a cabeça e diminui o tom de voz: — Carla, é sério. 

— Fer, não sei do que está falando. 

— Você vai ficar aqui? — Ergui os olhos rápido, tinha esquecido de selecionar o andar. Um homem havia entrado e estava segurando a porta, esperando por mim. 

— Não. — Dei um passo à frente e pressionei o térreo. — Desculpe — emendei, sem olhá-lo. 

— Com quem você está falando? — perguntou minha irmã. — E do que você está me acusando? Ainda não entendi. 

— Sua brincadeirinha idiota, de madrugada. Sorte sua que só vi agora. 

— O quê? 

— A que você agendou quando veio instalar a impressora. 

— Fer, você está em perigo? Isso é algum código? 

— Por favor, não brinca comigo. Foi você, né? 

— Eu o quê? 

— A porcaria das mensagens na impressora! — falei mais alto do que pretendia. — As imagens de demônios? — completei num murmúrio. 

— É O QUÊ?! 

Percebi que minha irmã não fazia a mínima ideia do que eu estava falando ao mesmo tempo que notei o riso abafado vindo do homem ao meu lado. 

— Desculpe. — Inclinei o rosto para ele. — É falta de educação prestar atenção na conversa alheia. 

— Não quis ouvir — disse, virando-se para mim. — Acho que devo um pedido de desculpas. 

Alto, bronzeado, cabelos escuros, olhos verdes intensos, uma boca deliciosa e um sorriso sacana. É ele. 

— O surfista — sussurrei, ainda segurando o celular no ouvido. 

— Você o encontrou? — perguntou minha irmã. 

— É-é... Quer dizer, sou. — Ele franziu o cenho. 

— Não estou falando com você e não adianta pedir desculpas se vai continuar ouvindo minha conversa. 

— Não estava pedindo desculpas por isso. — Abriu um sorriso largo. 

— Como? — Arqueei a sobrancelha. 

— Fui eu. — Minha confusão deve ter ficado explícita. — Sua impressora está pública, ela aparece na rede wifi, e ontem de madrugada...

— Carla, depois te ligo. — Encerrei a chamada e enfiei o celular no bolso do short. — Você está dizendo que mandou aquelas mensagens bizarras? 

— Estava com insônia, vi a rede aberta e decidi fazer uma brincadeira. Não achei que quem as recebesse, pensaria que a impressora estava possuída. — Ele comprimiu os lábios, prendendo o riso. 

Chegamos ao térreo, o elevador abriu. 

— Babaca — saí. 

— Não quis assustá-la. — O olhei por cima do ombro. Ele impediu que a porta se fechasse. — Não de verdade. — Voltei a caminhar, ignorando-o. Ouvi passos atrás de mim. — Como posso me desculpar? — O ignorei. Ele continuou a me acompanhar. — Qualquer coisa. Quer que me ajoelhe? 

— Oi, Álvaro — cumprimentei o porteiro. 

— Boa noite, Dona Fernanda. — Ele pegou uma sacola de papel e me entregou. — Tá aqui seu jantar. 

— Obrigada. — Abri a sacola, peguei uma das embalagens e estendi para ele. — Esse aqui é seu e não aceito recusa. 

— Tá bom, Dona Fernanda. Obrigado viu.  

— Boa noite, Álvaro. 

— Fernanda. — O vizinho imbecil me chamou quando passei por ele, seguindo para o elevador. — Posso levá-la para jantar? — O encarei, não acreditando na audácia. — Como um pedido de desculpas. — Adentrei o elevador, e ele também. Selecionei meu andar. — Por favor? Prometo que te levo num lugar que valha o seu perdão. 

— Meu jantar. — Levantei a sacola e quase esfreguei na cara dele. 

— Comer delivery sozinha em pleno sábado à noite é crime. 

— Ah, pronto! — Revirei os olhos. — A gente nem se conhece e já quer entrar na minha semana. 

— Por enquanto só estou pedindo umas duas ou quatro horas do seu sábado, mas posso estender o convite para semana também. 

— Minha resposta continua sendo não. De todo jeito, tenho um trabalho para concluir. Agora, aproveitando que está a alguns passos do meu apartamento — chegamos ao meu andar —, você pode se desculpar desativando o caralho dessa rede pública. — Saí do elevador, acompanhada por ele. 

— No que você está trabalhando? 

— Uma campanha publicitária. — Destranquei a porta de casa, virei para ele e fiz uma careta. — Para o dia dos namorados. 

— Não diga que alguém partiu seu coração. 

— Para ter o coração partido é preciso se iludir primeiro, não faz meu estilo. — Entrei e indiquei para ele fazer o mesmo. — A impressora fica no quarto, você pode seguir o corredor... 

— Moro no apartamento de cima. 

— Então você sabe onde fica. Só vou deixar isso aqui — sinalizei para a comida — na cozinha. 

Em minutos o encontrei no quarto, para ser fiel aos fatos, ele estava na varanda, catando meus papéis, que tinham se espalhado no chão. Pode ser que eu tenha ficado levemente sobressaltada com sua brincadeira idiota e na pressa de me ver longe daquelas imagens, porque apenas uma mínima porcentagem do meu cérebro queria acreditar que era uma zoeira da Carla, cerca de 97% estava convencida de que a maldita impressora estava possuída por entidades demoníacas, esqueci de colocar o peso de papel e o vento fez a festa. 

— Acho que você terá um pouquinho a mais de trabalho. — Ele deu de ombros. — Configurei a impressora para rede privada, a senha está anotada no bloco de notas, e para que não fique na dúvida, sim, é o meu número. 

— Interessante. — Mordi o lábio, impedindo-me de sorrir. — Isso quer dizer que você continuará podendo me atormentar? 

— Não tem mais graça agora que sabe que sou eu. 

— Se acontecer, já sei em qual porta devo bater para reclamar. 

— Não me faça ter ideias. 

— Ok, acho que você pode ir. 

— Que grossa! Nem convida para jantar? 

— Não, só tenho o bastante para mim. E não foi você quem falou que comer delivery no sábado à noite é um crime? 

— Não se tiver companhia. — Ele terminou de catar os papéis e se ergueu. — Eu me ofereço para cozinhar para você. 

— Acho que não. — Meneei a cabeça. — Eu meio que estou refazendo toda a campanha e irei apresentá-la na segunda de manhã, portanto, sem tempo para... — Nem sabia o que ele estava me propondo. — Qualquer coisa. 

— Se eu te ajudar? 

— Não vejo como isso seria possível. 

— Sou roteirista, surfista só nas horas vagas. — Piscou. — A propósito, me chamo Jonas Reynard. 

— Reynard? Você é o JR? 

— É. 

— Puta merda, cara! Você ganhou dezenas de prêmios internacionais. 

— Isso significa que minha ajuda é bem-vinda? 

— Não posso aceitar. 

— Por que não? Você disse que estava refazendo a campanha, o que pela sua cara, quando falou que é para o dia dos namorados, deduzo que tenha a ver com sua falta de envolvimento com o tema, certo? — Anuí. — Você me conta sua ideia, faço as pontuações que achar cabíveis e você poderá trabalhar no que for pertinente. 

— E você faz o jantar? 

— Vamos! — Ele pôs os papéis na escrivaninha. — Eu cozinho e você me conta suas ideias para a proposta publicitária. 

— Não acredito que você é Jonas Reynard. — O olhei da cabeça aos pés. 

— Quer ver minha habilitação? — Ele levou a mão ao bolso da calça. 

— Não, acredito, é que... Você parece novo demais para alguém com tantos prêmios no currículo. 

— Tenho vinte e oito anos e, por favor, me chame apenas de Jonas. 

— Está bem. — Seus olhos se detiveram nos meus. — Jonas. 

— Muito melhor, Fernanda. 

— Você não morava aqui — comentei, deixando o quarto. — Mudou quando? 

— Estava fora do país há dois anos, retornei no último mês, mas morei aqui mesmo, por quase cinco anos. 

— Nos desencontramos por pouco, mudei pra cá dois anos atrás. 

— Olha aí, tínhamos que nos conhecer. Já não estou arrependido por ontem de madrugada. 

— Se tivesse visto logo, teria acordado o prédio inteiro. Sua sorte é que estava focada no trabalho e só desliguei a impressora. 

— Teria sido muito divertido. 

— Que brincadeira mais idiota, isso sim. 

— Posso escrever um filme com esse roteiro e dedicá-lo a você. 

— Não ouse! 

Uma hora depois e conversávamos acaloradamente na cozinha, não sobre assuntos picantes, embora ele fosse um homem quente, indiscutivelmente. Se sentava? Com força! Não só sentava, mas também mamava, quicava, rebolava, montava e cavalgava, até que não tivesse mais forças. Contudo, o trabalho vinha antes do prazer e ele tinha se prontificado a me ajudar, não ia desperdiçar a oportunidade. 

— Você está baseando todo o conceito da campanha na ideia de relações amorosas — declarou, servindo-nos. 

— Não é esse o ponto do dia dos namorados? 

— Deixe a publicitaria de lado e me responda como mulher. Por que você não gosta do dia dos namorados? 

— Porque não acredito nessa ideia de romance vendida pela sociedade. Não acho que preciso de alguém para me sentir feliz e completa, e também não vejo qual o problema na busca do prazer por prazer, sem atrelar isso a uma relação. Pra mim, sexo é um ato de amor a si mesmo, é sobre dar-se prazer e satisfazer os seus desejos. Sexo é sentido na pele. Não é preciso um laço afetivo, mas sim respeito, se tiver isso, pode durar uma noite ou cinquenta anos, é uma declaração de amor a si mesmo e de entrega a outro alguém. Não digo que nada possa surgir disso, não é essa a questão, acredito que um relacionamento por ser consequência de um envolvimento sexual, mas não o objetivo. 

— Caralho! — Ele ficou em silêncio por alguns segundos, olhando-me com intensidade, os lábios insinuando um sorriso. Eu estava ficando quente. —Faça desse o conceito da campanha e a conta é sua, não tenho dúvidas — concluiu. 

— Isso é o oposto da prerrogativa de namorados. 

— Você está fazendo uma campanha para uma marca de cosméticos, seu público é majoritariamente feminino, e acho que muitas mulheres se sentem desconfortáveis com a representação social do romance, assim como você. Não existe nenhuma cobrança em relação ao homem estar solteiro ou namorando, é meio que tanto faz, tá subentendido que ainda que ele esteja solteiro, nunca está sozinho. Faça uma campanha para as mulheres, enaltecendo o amor próprio. Por que não dizer que ela pode comemorar a noite dos namorados sozinha no seu restaurante favorito? Desmanchando a maquiagem numa balada suada, dando uma amassos no banheiro? Ou borrando o batom com um estranho que acabou de conhecer no elevador? 

— Se foi um convite, devo avisá-lo que hoje não é o dia dos namorados. 

— Ou seja, você tem pouco mais de um mês para se decidir. 

Nós jantamos e fomos para meu quarto. Sentamo-nos no chão da varanda, eu apoiada na parede, com o notebook no colo, e ele recostado no guarda corpo de vidro. Meus olhos estavam quase o tempo todo grudados na tela, mas podia sentir seu olhar em mim, e vez ou outra, os voltava para ele. Refiz a campanha do zero, compartilhando com ele cada detalhe enquanto dávamos fim a duas garrafas de vinho. Bebi muito menos do que ele, o que pode ter sido a razão de ter varado a madrugada acordada e com a mente a mil, e o Jonas ter caído no sono, sentando como estava. 

Era por volta de nove horas quando dei por terminado meu trabalho. Desliguei o notebook, fiz um café e levei duas canecas para a varanda. Sentei-me no lugar onde estivesse antes e cutuquei o Jonas com o pé. Ele semicerrou os olhos e esfregou a mão no cabelo. 

— Bom dia. — Ofereci a caneca. — Café? 

— Obrigado. 

— Concluí a campanha, está tudo pronto e revisado. Graças a sua ajuda, terei o domingo para descansar. 

— Não fiz nada. — Ele tomou um gole do café. 

— Você me deu voz. Sabe o quanto isso é raro? 

— Foi um prazer. — Outro gole. — Acho que a resposta é não, porque imagino que queira dormir. Vou pegar umas ondas, tá a fim? — Piscou, prendendo a pontinha do lábio inferior numa mordida. 

— Não sei qual o lado certo da prancha, mas prometo que outro dia topo, hoje realmente só quero minha cama. 

— Tudo bem. — Bebeu mais um gole. — Vou nessa, para que possa descansar. — Levantou-se. — Deixo na cozinha — indicou a caneca. 

— Vou te levar até a porta. 

— Quer que eu volte? — Estendeu a mão para me ajudar a levantar. 

— Pode ser que sim. 

— Na próxima, trago o vinho. 

Não pensei que fosse acontecer tão rápido um novo encontro. Liguei para ele assim que cheguei em casa na segunda-feira, queria contar que minha campanha foi escolhida pelo cliente e, para minha surpresa, em cinco minutos ele estava batendo na minha porta com duas garrafas de vinho. 

— Amanhã é dia de expediente. 

— Uma é para repor uma das suas, a outra é para o nosso jantar. 

— Que jantar? 

— Ué, você não come às segundas? 

— Idiota. — Ri. — Entra vai. 

De repente, estávamos nos vendo todos os dias da semana. Ele me ensinou a pegar umas ondas. Miniaturas, mas isso não vem ao caso. E nada de nos pegarmos, para revolta da minha irmã. Somente quando ele viajou e ficou mais de uma semana fora notei o quanto estávamos próximos. Senti uma falta absurda de estar com ele. 

O dia dos namorados chegou e eu deveria estar comemorando, afinal a campanha bateu record de vendas e o cliente estava radiante, assim como o meu chefe, porém, Jonas era a pessoa com quem eu queria dividir uma garrafa de vinho, na varanda do quarto, conversando sobre qualquer baboseira, e ele estava em Miami. Ao menos foi o que ele me fez acreditar até um pouco mais de sete horas. 

Estanquei na porta do quarto ao ouvir o zunido da impressora. Em dois pulos estava diante da escrivaninha, apanhei a primeira folha impressa, outra estava em andamento. Jonas me enviou uma foto, coberto por um lençol branco e molhado, desenhando o corpo nu por baixo. Mordi o lábio. Peguei a impressão seguinte. Era um teste de DSTs, negativo para todos os itens. Demorei somente o tempo de resgatar o último resultado dos meus exames e buscar uma garrafa de vinho na cozinha. Em minutos, estava batendo em sua porta. 

— Pensei que teria que arrastar esse traseiro até aqui.  

— Você me mandou alguns presentes, não podia vir de mãos abanando. — Estendi a garrafa e o envelope, ele os envolveu numa mão. — Espero que ter escolhido bem. 

— Vai depender do que me dirá agora. — Puxou-me pela cintura para dentro do apartamento e bateu a porta com o pé. — Está a fim de comemorar o dia dos namorados com um estranho que conheceu no elevador? 

— Você tem o final de semana livre? 

— Pelo tempo que você quiser — sussurrou em meus lábios, antes de me beijar.


Um conto escrito gentilmente pela autora Sinéia Rangel, especialmente para o blog A Culpa é dos Leitores. Qualquer reprodução sem o devido consentimento da autora quebra as regras de direitos autorais. 














4 comentários:

  1. Conto maravilho , gostoso de ler ,😍😘😍

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  2. Eu sou suspeita, leria até a sua lista de compras rs! Mas está incrível como sempre! <3

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