Um café e uma dose de feminismo: precisamos falar sobre a romantização dos homens abusivos



Olá amores e amoras! 

Vocês estão bem? Espero que sim. Hoje iremos papear um cadinho sobre a romantização de comportamentos abusivos na ficção, seja ela cinematográfica ou literária.

Não! Não vai embora. Eu não quero modificar sua escrita, querida autora. E tão pouco é meu objetivo falar mal daquele seu crush literário sequestrador, amiga leitora. Eu só quero conversar. 

Nós, mulheres, fomos criadas sob a perspectiva de que podemos ser salvas. Olhando de uma forma ampla, cá entre nós, a maioria de nós temos esse desejo de salvação. As vezes vivemos em um relacionamento horrível, com um marido péssimo, que cheira a cerveja e nem se lembra da última vez que tomou banho.

Muitas vezes, ele não bate. Mas controla nossos passos. Nossas amizades. 

E tem aqueles que são agressivos. Violentam física e psicologicamente. Sem contar que, já que estamos ampliando, existem outros tipos de mulheres que sonham em serem salvas: aquelas que tem pais que as prendem demasiadamente, ou que simplesmente se abdicaram de tudo para cuidar de alguém.

Os livros e os filmes acabam sendo refúgios. Locais onde elas podem sonhar em ser a mocinha, ou colocar em sua mente as características daquele mocinho fictício.

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Eu li e leio vários livros que tem mocinhos maravilhosos, mas tenho a sabedoria em distinguir as coisas. Eu sei que aquelas situações cabem apenas na ficção, que não teria cabimento acontecer na vida real.

Vou dar um exemplo. Travis Maddox. Eu adoro esse mocinho. Mas sinceramente? Na vida real não daria certo. Seu instinto protetor, seu humor inflamado, é tudo que não gosto. Mas ali, no livro, ele é maravilhoso.

Acontece que nem todas as mulheres sabem dosar. Algumas enxergam a agressão do lado de fora como a do seus personagens favoritos. Algumas passam a namorar aquele cara lixo só porque acharam romântico o fato dele ser "protetor" e colocar espião em todos os seus meios de comunicação.

Algumas passam a achar romântico o fato do seu namorado a querer só pra si, e assim como aconteceu com sua mocinha preferida, ela delira achando um arraso não ter mais contato com sua família e amigos.

Outras vêem no seu salvador o cara maravilhoso, que vai dar a vida que ela sempre quis. Vestidos, maquiagem.

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Acontece que esse mundo real, onde vivemos, infelizmente, não encontramos príncipes que nos salvam. O isolamento de uma mulher, no mundo real, pode ser fatal.

Essa dependência para com o parceiro, cá entre nós, não é saudável.

E quando abrimos um tópico pra discutir o quanto a ficção, no ponto onde traz situações que levam a abuso como algo romântico, logo vem uma briga sem fim.

Não queremos impedir sua escrita. E tão pouco sua leitura. Só queremos discutir a necessidade de ainda existir, em pleno 2020, livros e filmes que trazem gatilhos.

Será que é realmente necessário você colocar um sequestro na sua obra, onde o mocinho se apaixona e porque ele acredita ter poder, sequestra sua amada? Será que é preciso uma situação que leve a trocas de tapas para conter uma mocinha? É isso que queremos que vocês pensem.

A cabeça de um escritor é magnífica e cheia de possibilidades. Hoje em dia, temas como estes postos acima, precisam ser discutidos, precisam ser "diminuídos". Na verdade, eles precisam ser extintos. São novos tempos, e eu sei que vocês escrevem para sonhadoras, mas será que nós, como sonhadoras, não merecemos histórias que tragam relacionamentos sem abuso? Será que até na ficção isso é difícil de acontecer?

Quando uma mulher disse que um filme traz algo sério, que não pode de forma alguma ser visto como romântico; e esta mulher teve uma experiência própria com a temática do filme; o mínimo que podemos fazer é respeitar essa mulher. Respeitar seu discurso. Tentar compreender o que ela sofreu e o que ela quer denunciar.

Defender a arte, a liberdade de expressão é diferente de ofender. Precisamos discutir, com todo respeito, a romantização da violência, do machismo, do abuso, do abusador... Precisamos enxergar todos os lados, não apenas o do escritor ou o do leitor que consegue separar a ficção da realidade.

São novas eras. E pense bem no legado literário que quer deixar para as próximas gerações.




2 comentários:

  1. Olá Bia,
    Post mais que necessário. Temos sim que abordar sobre os romances abusivos, seja em livros ou filmes. No início não romantizava mas não ligava tanto, depois aprendi a falar nas resenhas quando identifico pois tem gente que não consegue diferenciar a vida real da arte. Com essa mudança, e uma visão mais crítica passei a me incomodar um pouco. Acho que o importante é ser identificado para que pessoas que passam por isso não passem a ver a relação abusiva como algo normal.

    Beijo!
    www.amorpelaspaginas.com

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    1. Oi Ray, muito obrigada! Eu já li muitos livros que tem esses gatilhos e por medo de parecer "inflamada" não apontei em minhas resenhas. Hoje não faria mais isso. Esse post foi um divisor de águas em minha vida, prometi que não vou mais fingir que não existe problemas em romantizar temas desnecessários.
      Obrigada por seu comentário.
      Beijos

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